sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Tibidabo





Para compensar a falta de notícias deixo esta foto mesmo gira do Parc d´Atracciones de Tibidabo (sim o nome do sitio é mesmo este :) que fui visitar a semana passada. Tibidabo fica na zona alta de BCN que é assim dizer a parte mais montanhosa e tem a melhor vista, sobre a cidade,a meu ver. Uma coisa impressionante de onde se podem reconhecer os grandes monumentos e organização da cidade em malha ortogonal.


Em Tibidabo encontrámos o dito Parc d´Atracciones inaugurado em 1908 e muito bem conservado, dá assim um todo chiquetérrimo à cidade e o Temple Expiatori del Sagrat Cor construído entre 1902 e 1911 que tem um Cristo gigante e uma vista maravilhosa. Para completar o cenário a banda sonora estava óptima e passámos a tarde a ouvir grandes clássicos do Gospel... só faltou a máquina fotográfica

Há vidas que merecem o nosso tempo.









“…cada palavra tem um significado forte para mim, podia ter escrito isso eu própria, se eu as tivesse escrito tê-las-ia escrito assim e não de outra forma.”


( o que Etty escreve sobre as cartas de Rilke, poderia ter escrito eu sobre as cartas dela)


A Etty entra na minha vida da forma mais banal possível através duma mensagem com um excerto dum parágrafo que agora nem recordo qual, daí ficou-me o nome, Etty. Simples mas sonante. Depois um amigo, um mestre, um conselho, aqui ficou a curiosidade. 
Comprei o livro, coisa rara, raramente compro livros, mas a capa, o olhar, a pose, o modo como segura no cigarro… e o amigo e o conselho, tinha de ser… Tinha de conhecer a Etty.


E assim foi, fácil…Demasiado fácil, assustadoramente fácil de perceber o que escrevia. Deixo algumas frases, algumas só para aguçar o apetite e algumas fotos para que as palavras tenham um rosto e comentários também, alguns, mas poucos e os que deixo são puro capricho meu, ela escreve muito bem por si.





“Lá estava eu então, com o meu «bloqueio espiritual». E ele iria pôr o meu caos interior em ordem, dominar as forças contraditórias que habitam o meu íntimo. Foi como se me tivesse pegado pela mão e me dissesse, vê, é assim que deves viver. Toda a vida tive essa sensação: quem me dera que houvesse alguém que me pegasse pela mão e se ocupasse de mim;”


“Tudo o que achasse bonito, desejava-o de forma exageradamente física, queria possuí-lo.”


“A vida em si deve permanecer a fonte primitiva, nunca um outro ser.”


“É difícil estar simultaneamente de bons termos com Deus e com o baixo-ventre.”


Uma mulher como qualquer outra, apaixonada por um homem, que se debate com as questões mais banais da paixão o «querer possuir», o «desejo»  e sobre elas escreve com uma abertura despudorada e no meio disto tudo a consciência de Deus que a faz questionar constantemente os seus sentimentos e a essa relação tentando ordenar afectos. 







“Tudo isto existe por sua vez neste mundo e não devemos negar uma coisa em detrimento da outra.”


“Estás sempre a dizer que queres apagar-te completamente, mas enquanto estiveres cheia dessa vaidade e dessas fantasias não deixaste ainda de te importar contigo... preciso de viver ainda muito mais interiormente.”


“Creio que não vivo de modo suficientemente simples por dentro… Pensar é uma bonita e orgulhosa ocupação… Então deve ser-se passivo e escutar.”


“A única coisa que uma pessoa pode fazer é pôr-se humildemente à disposição e deixar-se tornar um campo de batalha.”


“Uma pessoa não deve perder-se continuamente nas grandes questões…”


Consciente da realidade em que vive, comprometida com o mundo e que se debate constantemente com a interioridade e a exterioridade na procura de um equilíbrio.





“Ó Deus, toma-me na tua grande mão e torna-me o teu instrumento, faz-me escrever.”


“ …é assim que eu quero escrever. Com um espaço imenso  à volta das palavras… um espaço com alma…”


“Uma pessoa deve igualmente aceitar que tem os seus momentos «não criadores»…Uma pessoa deve ter coragem de fazer um intervalo. Deve ousar estar vazia e sentir desânimo.”


Uma mulher que tem um sonho, que sonha escrever e descrever tudo o que vive com toda a alma, nunca chego a perceber se tem consciência de que já o faz. Hoje em dia o Etty Hillesum Research Centre (EHOC) estuda a sua obra.







“Dentro de mim há um poço muito fundo. E lá está Deus. Às vezes consigo lá chegar. Mas acontece mais frequentemente haver pedras e cascalho no poço, e aí Deus está soterrado. Então é preciso desenterrá-lo.”


“Deus, pega-me pela mão, acompanhar-te-ei bem-comportadamente, sem muita resistência.”


“Quando uma pessoa leva uma vida interior, talvez nem haja assim tanta diferença entre estar fora ou dentro dos muros de um campo. Será que irei  conseguir justificar estas palavras a mim mesma, mais tarde?”


“Sei de tudo e continuo a enfrentar cada pedaço da realidade que se me impõe.”


“O que se passa realmente comigo? Nenhuma das preocupações deste dia ficou agarrada a mim…De minuto a minuto, vão-se despregando de mim mais desejos, anseios e vínculos a outros, estou pronta para tudo…”


“…eu não tenho a sensação de estar presa nas garras deles…só sinto estar nos braços de Deus…”


“Mas sobre aquele pedaço de caminho, que permanece nosso, também existe o céu total. Não nos podem fazer nada, não nos podem fazer realmente nada. Podem tornar-nos as coisas algo complicadas, podem roubar-nos alguns bens materiais, alguma aparente liberdade de movimentos, mas somos nós que cometemos o maior roubo a nós próprios…”


“Olha, as minhas forças não dão mais do que isto, para além disto não aguento. Quanto a isto não há nada que eu possa fazer, tens de me aceitar como eu sou.”


O que mais admiro nesta Senhora é a sua Fé inabalável e consequente. Para Deus nela não há territórios proibidos, a descoberta de Deus veio revolucionar toda a sua vida, as suas relações, o seu trabalho, o seu dia a dia, das opções mais banais às mais mais vitais. Etty dá todo o espaço para que Deus trabalhe nela, abre em consciência a porta da casa para que Ele a desarrume.







“Todavia sou uma eleita, meu Deus, que me deixas participar em tanta coisa desta vida e me deste tanta força para conseguir arcar com tudo.”


“Mas na realidade é mais que isso o que se passa: o céu vive dentro de mim. Tudo vive dentro de mim.”


“Os céus dentro de mim são tão vastos como os que estão por cima de mim.


E no final isto resume tudo, uma mulher que faz um caminho destes, de crescer na consciência de que nela se reunem céu e terra, pessoas, vidas, preocupações, trabalho e também serenidade, consciência histórica, caridade, oração, Deus. E chego ao final a rezar, é impossível não rezarmos vidas destas, vidas que nos inspiram a sermos mais de Deus, cada vez mais.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

bandeiras e galhardetes...





artista de rua no Parc Güell

“Man is least himself when he talks in his own person. 
Give him a mask, and he will tell you the truth.”
Oscar Wilde


Encontrei esta frase no outro dia que me recordou as conversas com a Rita quando cá esteve, muito à volta das máscaras que todos temos, os grandes chavões que usámos com frequência e que nos definem para o mundo, mas sobre isto não escreverei para já, ainda precisa de amadurecer cá dentro.


Já agora, obrigada Rita pela visita, pela energia, pela confiança. Para quem não sabe a Rita é uma personagem muito atípica, "primeiro estranha-se depois entranha-se...".


segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Rita & Tiago




Rita Psicótica no La Boqueria


Momentos carinhosos foram uma constante, Plça Reial

  
Chegada do Tiago

Update da Cusquice, Gato Negro



 
 Tiago, na Avinguda Gaudí


 

Survivors no Parc de la Ciutadella

 

diz quem viu que era o Próspero no Parc Güel

 

Petit Palau


Museu Marítimo

 

Conspiração no Hook


Chopito




quinta-feira, 15 de outubro de 2009

BCN tem a honra...

Só para avisar que Barcelona tem a honra de receber a visita de pessoas importantes este fim-de-semana, sendo uma delas, que já cá está, a enérgica e adorável Rita e a outra, o charmoso e irresistível Tiago que chega jáaaaaa amanhã. Por enquanto eu quedo-me a tentar escrever duas páginas em Castelhano...Serei brevemente recompensada por isto é o que vale.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

in between

Entre o Inglês e o Espanhol, hoje chego ao final do dia cansada e hesitante na lingua em que devo responder às perguntas que me fazem...Mas bem. Hoje foi um dia voltado para o social.

Nunca, nunca que eu teria um dia assim em Portugal. As minhas horas já estavam todas contadas, empilhadas, divididas em mil e uma prateleiras organizadas por discenimentos, prioridades e afectos, ordenados alguns desordenados a maioria... Aqui o tempo é meu, meu como nunca foi em Portugal. E sabe bem não ter necessidade de o ocupar todo, de o dar todo sei lá... Sabe bem tê-lo. Esse era um dos objectivos disto tudo. O tempo.



p.s. Isto está tão mal escrito que arrepia, mas hoje não me apetece perder tempo em revisões:)

domingo, 4 de outubro de 2009

"Anything Can Happen Saturday"



Chamei-lhe assim: "Anything Can Happen Saturday" inspirada num episódio duma série que tenho acompanhado mas principalmente porque, de facto, nada do que aconteceu neste sábado estava planeado.



Começou por mais uma noite mal dormida, mas isso daria uma outra história. Depois de muitas combinações consegui acertar uma hora, ou achava eu que tinha conseguido, com umas coleguinhas Erasmus de Psicologia para uma amena tarde no parque a trocar ideias ao sol.

Mal ponho o pé a postos para descer o 1º lance de escadas caio por ali abaixo duma forma que poderia ter sido engraçada não tivesse sido um tanto ou quanto dolorosa.

Um infortúnio pensei eu na altura, um prenúncio afirmo-o agora.

Continuei, ligeiramente coxa mas convicta de que uma bela tarde me esperava. Lá estava eu, no local marcado e nada...Já meia hora tinha passado e nada... E claro, como ainda não tenho número Espanhol não me interessam muito os contactos das pessoas e pelo facebook tudo se arranja, vai daí, não tinha para quem ligar...Desisti e continuei o meu caminho.

Afinal estava um belo dia de sol e o parc mais calmo que o habitual por causa da Air Race. Deitei-me na relva a deixar que o Sol me consolasse da falta de companhia. A certa altura sento-me, para apreciar o ambiente e um rapaz passa com uma bicicleta pela mão e pede-me uma informação. Situação mais normal impossível. Como já estou naquela fase em que até posso dar algumas informações não hesito em praticar o meu espanholês e vai daí lá tentei ajudar...mas o sotaque dele era estranho e a certa altura tive a subtil impressão de que não estava a querer entender o que lhe dizia, então olhei para trás e qual não é o meu espanto, susto, choque, quando vejo outro tipo com a minha mochila, que por apenas alguns minutos tinha ficado fora do meu raio de visão, na mão.

Não me lembro do que senti ao certo, levantei-me num ápice com a pior cara que soube fazer e dirigi-me a ele, que por sorte ou acaso, hesitou e recuperei a minha mochila. Nesse momento o outro que me distraía balbúciou qualquer coisa e fugiram nas bicicletas, um para cada lado. Eu fiquei ali, de pé, sozinha no meio de toda a gente.

É provável que nem bom Português isto seja: "sozinha no meio de toda a gente"  mas é passível de ser experimentado, isso asseguro que é.

Só uns minutos depois, uns largos minutos depois, tomei consciência do que tinha acontecido. Tentei deitar-me mais um pouco para me acalmar mas já não conseguia estar ali. Fui dar uma volta. Parei na Igreja do parc onde já tinha estado e descoberto uma imagem de Sto. Inácio numa das naves laterais. Naquele cantinho chorei pela primeira vez em Barcelona. Aninhada entre um confessionário e a imagem duma cara tão familiar escondida da vista de quem por lá passava.
Acho que não passei lá muito tempo, o suficiente para me acalmar e voltar para casa.

Não tem um final radiante o meu dia, nada do tipo arrebatador. Mas no final, enquanto me olhava ao espelho a tentar perceber a dimensão da negra que tinha feito aquando da minha queda escada abaixo, percebi que tudo de mal poderia ter acontecido, podia ter-me magoado bem mais, podia ter ficado sem documentos, passe de metro, tlm, etc... mas principalmente podia não ter quem me consolasse depois disto tudo e no final de contas tenho, tenho sempre quem me console.



p.s. Para os mais preocupados: eu estou mesmo bem e o ênfase deste post vai mesmo para o final do dia, e aqueles dois, aqueles dois perceberam que comigo mais vale trazer bicicleta porque a pé não me escapavam:)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

ao chegar a um local ver, sentir e admirar...









"Dèu ha deixat amb Gaudí un exemple esplendent de com és precís veure, sentir i admirar tot el que envolta la humanitat, sense prejudicis però si amb la bona voluntat i la ingenüitat que fan compresible tot allò que es pot veure sobre la faç de la Terra."


o que escrever...

Finalmente algum tempo para deixar aqui um "Hola!"...Confesso, não tem sido só a falta de tempo, nos últimos dias, depois de descobrir outros blogs de estudantes em Erasmus também me tenho questionado sobre o conteúdo deste blog. 
Por vezes não sei bem se deva postar coisas mais curriqueiras sobre os meus dias ou mesmo acerca do que vou lendo sobre a Cidade e isto porque se de facto quiserem saber sobre Barcelona vão obviamente pesquisar à net e muito menos me parece que estejam interessados em saber sobre as aulas que tenho, enfim... Não é coisa que me atormente mas tem diminuido a minha capacidade de me sentar e escrever aqui, isto tudo porque, e desculpem aqueles que se vão desiludir, não, não sou uma fonte inesgotável de divagações metafísicas interessantes :) 

Contudo as aulas já começaram e já tive as apresentações de todas as cadeiras e estou muito muito entusiasmada. A UAB ( Universidade Autónoma de Barcelona) é organizadissima, de fazer ver pelo menos à minha cara FPCEUP. Só tenho 2 aulas em Catalão, que é óptimo. É que nem consigo descrever o que têm sido nos últimos dias aqueles segundos antes do professor entrar na sala e começar a palrrar, é um simples desejar ardentemente que dali saiam palavras que se compreendam.

Hoje por exemplo tive a minha primeira aula de Psicofarmacologia, cadeira que queria muito fazer e foi uma hora, UMA HORA a ver toda a gente a rir às gargalhadas, mas não imaginam, aquela mulher deve ser mesmo engraçada porque riam e riam e eu ali, a olhar, de braços cruzados, até que passada meia hora decidi começar a passar o power point, mesmo tendo percebido que ela o ia ceder, só para me ocupar. NADA. Não percebi nada e eles riam-se.Enfim... Eu rir só me ria da minha figura ali.
Mas sim, vou continuar a assistir à aula, até porque tenho esperança de começar a pescar alguma coisa e quanto mais não seja a 19 de Outubro começa o meu Curso de Catalão e aí sim, com 2h todos os dias devo começar a poder rir-me nas aulas:)

Com o início das aulas vem também o contacto mais diário com os outros Erasmus que é bom, gente sóbria com quem trocar emails e contactos sabe bem por estas bandas:)

E agora a grande questão dos últimos dias e esta sim vale a pena comentar. Tese de Mestrado. Pois, orientador, tema, blah blah... coisas em que me está a custar pensar, principalmente aqui. Mas sim, hoje reservo a tarde para ver isto com calma e no fim de jantar
talvez um passeio até à Sagrada Família me ilumine as ideias...




Rambla del Mar à nit